Formosa

Consciência Negra: O antirracismo não pode se restringir a apenas uma data

A tomada de consciência para o combate do racismo cotidiano é ponto de partida para ações que trarão fortalecimento social, político e econômico de negros e negras

ícone relógio20/11/2021 às 01:28:26- atualizado em  
Consciência Negra: O antirracismo não pode se restringir a apenas uma data

A luta por igualdade racial no Brasil é pauta diária dos movimentos negros. Novembro é dedicado para refletir sobre a consciência negra e rememorar a retirada arbitrária dos africanos de suas terras, combater o genocídio da população negra no Brasil e explicitar o racismo cotidiano e estrutural vivido por pessoas negras que ainda vivem subalternas, no subemprego e silenciadas por uma norma branca racista.

Conscientizar-se enquanto sujeito negro é reconhecer sua potencialidade, sua ancestralidade e perceber que compôs e compõe uma luta que inicialmente é feita para sobreviver em ambientes racistas e, depois, para ocupar espaços de deliberações e transformá-los em antirracistas. Cabe à população branca se reconhecer como privilegiada e repensar suas práticas racistas que ainda são cotidianas.

Fernanda Ribeiro acredita que “as principais armas para enfrentar o racismo são, em primeiro lugar, conseguir identificar o que é, de fato, o racismo. Além de identificar as situações racistas que lidamos, pois a partir do momento em que você consegue identificar, consegue lidar melhor com a questão. Pelo menos, para mim, foi o que realmente me ajudou.”.

Além do processo de reconhecer esse racismo mascarado, banal ou como argumentado por feministas negras, racismo cotidiano, é preciso erradicá-lo. Faremos isso “sendo antirracista a todo o momento. Debatendo o assunto, estudando sobre o tema para se construir e rebater pessoas que cometem o racismo por ‘brincadeirinha’ ", acredita a professora Nilza Cristina.

A tomada de consciência racial para o combate do Racismo Cotidiano é ponto de partida para as ações antirracistas. No entanto, a conservação do pensamento colonial está ligada à conservação do aparelho do Estado que é racista e que assim se estabelece para conservar seu grupo hegemônico branco que defende o interesse do capital. 

Ações anticapitalistas, como o combate ao racismo, desmontam a estrutura racional e funcional do Estado. Desta forma, o Estado por meio de suas estruturas e instituições legitima o racismo, afinal esse Estado capitalista é conservado por um grupo hegemônico branco e racista.  

Este racismo que exclui negros da maioria das estruturas sociais e políticas, privilegiando sujeitos brancos é chamado de Racismo Estrutural. Já o chamado Racismo Institucional é aquele que coloca os sujeitos brancos em vantagens com relação à comunidade negra, ou seja, é o racismo que, em forma de padrão institucional, trata desigualmente os negros que precisam utilizar os sistemas educacionais, trabalhistas, judiciais, criminais e tantos outros.

O vereador do Partido dos Trabalhadores em Formosa, Wélio de Iraci Chegou, acredita que o combate ao Racismo Estrutural e Institucional deve acontecer por meio de “políticas públicas voltadas para o enfrentamento e combate ao racismo. Além de continuar prevenindo atos violentos, mas não somente físicos, desde o ingresso do sistema educacional brasileiro, dentre outras metodologias.”.

O movimento negro vem pensando formas de combate ao racismo alinhadas com o pensamento do vereador. Acredita que as políticas públicas para o enfrentamento desse problema histórico devem ser pensadas por negros e não mais por brancos que monopolizam esses espaços de deliberações. Devem também, essas políticas públicas, serem implementadas pelo Estado de forma responsável e incorporadas pelos brancos que devem assumir seu lugar de privilégio e se tornarem antirracistas.

Para esperançar um Brasil menos racista no futuro, é preciso combater o racismo atual e, claro, “sempre de cabeça erguida. Nada pode abater o negro, principalmente se ele for de uma classe menos favorecida. O meu conselho seria levantar a cabeça e encarar tudo de frente. Estude e vença”, diz o professor Mirim, presidente do PT em Formosa.

A luta antirracista não é feita somente pela comunidade negra brasileira, mas por um conjunto de Brasil que está cansando de enxergar um determinado grupo sendo subalternizado por séculos. Além do dia da consciência negra despertar a luta conjunta dos brasileiros e das brasileiras, esse dia é também pra reafirmar o empoderamento que deve ser diário do povo negro que construiu o Brasil com seu sangue.

“Eu sempre trabalho com o princípio de que juntos podemos mais e que não basta ser negro, tem que se reconhecer negro, por mais que seja difícil.  Nada de ser moreninho, café com leite, marrom... Quando a gente não se reconhece, tampouco muitos outros o farão", reitera a professora Nilza Cristina.

O início do reconhecimento do sujeito negro é “conhecer a fundo a história, a cultura afro-brasileira, isso traria riquíssimas contribuições para uma auto imagem empoderada. Com isso, se faz necessário uma busca de conhecimentos específicos e de vivências”, reafirma o vereador Wélio de Iraci Chegou. 

O apagamento de saberes negros, ou epistemicídio, e de sujeitos negros foi política estruturada pelo Brasil colonial que previa um embranquecimento do Brasil. Algumas figuras negras resistindo a essa ação se dispuseram a combater esse racismo ocupando espaços de prestígio nacional.   

Todos os símbolos negros ouvidos nessa matéria - Fernanda Ribeiro, professora Nilza Cristina, professor Mirim e o vereador Wélio de Iraci Chegou -, pontuaram figuras públicas negras e parabenizaram pela luta vivida o Carlinhos Brown, Lázaro Ramos, Milton Gonçalves, Thaís Oliveira, Djamila Ribeiro, Carolina Maria de Jesus, Emicida, Elza Soares, Karol Conka, Chimamanda Ngozi, Pelé, Zumbi dos Palmares, Glória Maria, Grande Otelo, Marthin Luther King,  Nelson Mandela, Barack Obama, Maju Coutinho e outros nomes. 

Mas o olhar atento às relações diárias foi destacado pela professora Nilza Cristina que disse: “as minhas melhores referências são sempre as pessoas que estão na resistência ao meu lado. Elas são amparo, muito reais e palpáveis.”

E da afetividade e ancestralidade recordados pelo Wélio de Iraci Chegou que disse: “meus pais, Iraci Chegou e dona Nedy, pelo o apoio nos momentos de formação pessoal. Meus irmãos, pelos momentos vividos juntos, sempre de superação.” 

Leiam escritores negros e negras, ouçam artistas negros e negras, assistam produções negras, votem em políticos negros e negras e contribuam em ações de fortalecimento humano de negros e negras. É preciso fortalecer a luta antirracista. Sejamos antirracistas!  

Da Redação

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