Canalização do Córrego Josefa Gomes pode ser suspensa. Faltou debate?
A população foi chamada a discutir o projeto quatro meses depois de lançado o edital para a contratação da obra. MP vê inconsistências e recomenda suspensão.
Desde janeiro de 2022, as discussões em torno da canalização do Córrego Josefa Gomes têm se feito mais presentes no município de Formosa. Naquele mês, a Prefeitura lançou edital de licitação para a contratação de empresa especializada em obras de engenharia para a realização da obra que pretende solucionar problemas de enchentes e alagamentos.
Já em março, foi lançado o edital para a contratação de empresa especializada para elaboração de projeto executivo e aprovação dos projetos junto à Caixa Econômica Federal.
Mas foi apenas no mês de maio que foi chamada uma audiência pública em prol da discussão acerca da canalização do Córrego Josefa Gomes. A audiência foi no Auditório da Prefeitura Municipal de Formosa.
Em 13 de junho de 2022, a 2ª Promotoria de Justiça da Comarca de Formosa/GO, recomendou à Prefeitura Municipal de Formosa que parasse imediatamente quaisquer atos administrativos ou relacionados à obra de canalização do Córrego Josefa Gomes. Além disso, nesta recomendação, afirma-se que a audiência realizada em maio foi meramente “pro forma” (por pura formalidade), visto que “as ponderações técnicas levantadas pelos presentes não foram efetivamente levadas em consideração”.
Pedrão do PT, ex-secretário do Meio Ambiente de Formosa e membro do Diretório do Partido dos Trabalhadores em Formosa, que participou da audiência pública, confirma que a audiência foi por mera formalidade e realizada em horário inapropriado, de forma que não houvesse de fato a presença da sociedade. Além disso, ele aponta que a Prefeitura apresentou um projeto já finalizado, apesar de a audiência pública ter como objetivo ouvir a sociedade e levar em consideração as suas contribuições.
Na recomendação da 2ª Promotoria de Justiça da Comarca de Formosa foi apontado um questionamento quanto à forma de comunicar a população sobre a audiência pública. Apesar de a verba destinada às despesas com comunicações ser de quase R$1.000.000, a forma de divulgação da audiência em questão foi feita somente por um post no Instagram e placard no site da Prefeitura.
Outros fatores apontados nesta recomendação dizem respeito a mais inconsistências no que se refere às justificativas dadas pela Prefeitura para a execução da obra e de consequências causadas por canalizações em outras cidades do Brasil. De acordo com o documento, apesar da Prefeitura Municipal de Formosa ser favorável à obra de canalização, os estudos apresentados por ela são contrários a este tipo de obra como forma de solucionar os problemas de enchentes e alagamentos, além desse tipo de obra causar impactos permanentes às áreas da natureza que deveriam ser preservadas.
A canalização está sendo vista com preocupação também por estudiosos da área. Durante a Semana do Meio Ambiente, promovida pelo IFG - Instituto Federal de Goiás Câmpus Formosa, este tema foi colocado em debate. Nayara Pires, servidora do Instituto na área de laboratório e controle ambiental, ressalta a importância do evento e também do IFG, da UEG - Universidade Estadual de Goiás e dos cientistas em se posicionarem em prol de “alertar a população sobre o que é mais sensato a se fazer, discutir com a população se a obra é realmente viável, se vale a pena. Essas instituições estão fazendo o seu papel de alertar a população sobre o que é o correto, de debater socialmente o que é saudável”.
Pedrão afirma que a canalização do Córrego Josefa Gomes é necessária, mas ressalta a importância de se buscar métodos que não agridam ainda mais o meio ambiente. De acordo com ele, a canalização com concreto é um erro imenso, erro que pode ser percebido em outras cidades do Brasil, onde córregos e rios que foram canalizados com concreto acabaram por favorecer as enchentes e alagamentos, e não o contrário. Além disso, afirma também que é necessário um projeto que priorize a preservação do meio ambiente, de modo que haja benefícios ao turismo, à cultura e à preservação da fauna e da flora.
Da Redação
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