Junho é o mês do orgulho LGBTQIAPN+: A comunidade está orgulhosa do que?
A caminhada dos que precisam deixar Formosa, quando aqui não lhes parece um lugar seguro para viver, ainda é o quadro que merece especial atenção
Há algum tempo o mês de junho se tornou significativo no calendário de celebrações por ser o mês do orgulho LGBTQIAPN+ (Lésbicas,Gays,Bissexuais, Transsexuais e Travestis, Queer, Interssexuais, Assexuais, Panssexuais, Não-binários e todos os que eventualmente podem ser incluídos em uma sigla que se entende e se movimenta), sendo o dia 28 o ponto alto e marco do mês. O dia recupera a memória da histórica revolta de Stonewall em 1969, um bar que congregava vários membros da comunidade na cidade de Nova York, onde a polícia, após invadir o local e agir com truculência, viu muitos de seus frequentadores se voltarem contra as práticas de violência e preconceito. Desde então o movimento LGBTQIA+ (que inicialmente não era identificado por essa sigla mais abrangente) foi ganhando forma na luta pelo fim do estigma e preconceito contra os grupos de diversidades sexuais e de gênero e garantia de direitos humanos fundamentais.
No Brasil as primeiras movimentações e organizações foram surgindo à medida que o Brasil ia favorecendo alguma abertura política nos últimos anos de ditadura militar, momento em que o movimento que trabalhava para criar o Partido dos Trabalhadores também reunia forças que conjuntamente viriam a formar o partido.
Os anos e décadas que seguiram permitiram que os primeiros projetos de leis com vias a garantir o casamento civil igualitário ou a criminalização da homofobia fossem propostos e defendidos (inclusive por parlamentares petistas) e que a própria organização social e cultural permitisse a realização de algo como a Parada do Orgulho, realizada pela primeira vez em São Paulo em 1997.
Ainda assim só em 2013 o casamento igualitário foi permitido, a criminalização da homofobia só conseguiu seu caminho possível em 2019. Em ambas as ocasiões, coube ao STF prover meios e garantias para isso. Algumas conquistas foram possíveis, mas o Brasil segue o país com índices alarmantes de violência e morte da população LGBTQIAPN+, com destaque para a população de pessoas transsexuais, mais vulneráveis socialmente.
Ainda assim muitas das feições desses movimentos ainda permanecem em grandes centros urbanos, o que torna a realidade de contextos interioranos ainda fora do radar e da atenção, mesmo que inquestionavelmente sejam o lugar de origem e de pertencimento da comunidade LGBTQIAPN+, mesmo que esses também sejam contextos adversos e nem um pouco favoráveis. De modo que poderíamos nos perguntar: Como é ser LGBTQIAPN+ em uma cidade como Formosa?
Em 2017, o documentário de Eduardo Bittar (formado em Comunicação pela UnB), Todo Mundo Vai Saber, reuniu o relato de trajetórias e experiências de gays falando de uma vivência homoafetiva na cidade de Formosa. De uma sensação de não pertencimento ao preconceito e não aceitação o documentário mostra como pessoas diferentes podem ser facilmente identificadas em uma cidade pequena onde todos se conhecem e onde todos saberão quem você é.
Muitos LGBTQIA+ facilmente se encontram no lugar de questionar o pertencimento familiar, religioso e da própria cidade natal onde se cresceu. Histórias de jovens gays, lésbicas, bissexuais, transsexuais ou transgênero que decidem por abandonar sua cidade ao considerar uma cidade maior é a ilustração de como o preconceito e homofobia dividem famílias e fazem com que a cidade perca muitos de seus cidadãos excepcionais e talentosos. A jornada dos que precisam deixar Formosa, pois aqui não lhes parece o melhor lugar para um LGBTQIAPN+ viver ainda é o quadro com a qual precisamos lidar.
Por isso alguém poderia perguntar: do que se orgulham em momentos como esse, visto que a própria celebração por vezes é cooptada e esvaziada de significado político legitimo ou ainda se resume a mais uma data para grandes companhias assumirem momentaneamente as demandas da comunidade em troca de dinheiro (algo que chamamos de pink money)?
Há ainda o fato de que muitos podem alegar que ser orgulhoso torna alguém LGBTQIA+ pretencioso e superior, o orgulho é um pecado certo? Por que se orgulhar? Ou do que se orgulhar?
O orgulho pode ser facilmente entendido como um sentimento de superioridade e religiosamente questionável, mas o orgulho pode ser entendido como um oposto da vergonha. Se um dia alguém teve medo de quem era, hoje essa pessoa pode ter orgulho de quem é, da força que teve para se tornar quem é.
Com o tempo, as novas gerações parecem encontrar realidades mais favoráveis, elas mesmo estão puxando a fila da tomada da consciência de classe. Com o tempo, poderemos ver uma cidade onde os cidadãos LGBTQIAPN+ também possam se orgulhar de aqui terem nascido e aqui também escolhido permanecer.
Por Redação
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